Me lembro muito bem do dia em que conheci a Diana! Era um lindo sábado de sol, em Itaipava, região serrana do Rio. Fui até lá, há pouco mais de um mês, a convite da querida Elaine Vidal para a inauguração de mais uma temporada encantadora do projeto Vivre. Antes mesmo de entrar no local do evento, me deparei com a Diana pintando ao ar livre, em meio à natureza, e com um chapéu da Barbara Heliodora, que havia sido feito especialmente pra ela usar naquela ocasião. Parecia que eu tinha entrado numa portinha mágica, que me tele-transportou para um universo bucólico, apaixonante e completamente diferente do dia a dia estressante que eu costumo enfrentar em Copacabana, um dos bairros mais movimentados do Rio!
Diana pintando ao ar livre em Itaipava, no evento do projeto Vivre.
Crédito da imagem: Thamyrez Aguiar, do blog Casa Design Studio
Naquele mesmo dia, entre uma pincelada e outra, arranjamos um tempinho pra conversar sobre viver fazendo o que a gente ama! Papo vai, papo vem, não demorei muito pra perceber que além das aquarelas da Diana serem lindas, ela também tinha uma história inspiradora pra contar – e que merecia ser compartilhada aqui no Inside, claro! Tanto que não perdi tempo! Poucas semanas depois daquele sábado lindo de sol em Itaipava, estava eu fotografando a Diana, no home office dela, no Rio de Janeiro. E tenho que confessar: fiquei tão encantada com a decoração do apartamento da Diana, que entrei em estado de flow – fotografei a manhã inteira e nem vi o tempo passar!
Paixão pela arte desde criança
A designer e aquarelista Diana Gondim sempre gostou de desenhar e, principalmente, de pintar. Era daquelas crianças que volta e meia dava um jeitinho de desenhar em todos os trabalhos da escola e também ficava encantada com desenhos animados bem feitos. “Eu alugava fitas de vídeos dos desenhos que eu gostava e dava pause só para poder desenhar olhando para a tela da TV – já que naquela época não tinha internet e nem revistas especializadas em ilustração”, relembra Diana.
O talento dela era tão evidente, que uma professora chegou a sugerir para a mãe da Diana que ela fosse matriculada num curso de artes, porque ela “levava jeito”. E foi assim que, aos 10 anos, a Diana fez um curso – que se estendeu por cerca de 4 anos – onde ela teve aulas de teoria da cor e aprendeu todas as técnicas de pintura: desde óleo a carvão. Quando a jovem artista completou 11 anos, a “febre do animes” (desenhos animados produzidos no Japão) tomou conta do Brasil. A paixão da pequena Diana por todos os desenhos que eram exibidos na extinta TV Manchete foi quase imediata e, com isso, ela sentiu uma necessidade ainda maior de colocar em prática tudo o que vinha aprendendo no cursinho de artes.
“Eu chegava da escola, almoçava, fazia o dever de casa e passava o resto da tarde desenhando. Eu criava metas: hoje vou ilustrar os personagens do desenho animado numa floresta e vou pintar usando lápis aquarelável. Com isso, produzi 250 desenhos, aproximadamente, só para mim mesma, usando as técnicas que aprendia no curso”, revela Diana. Já na adolescência, ela fez um intercâmbio para os Estados Unidos. No período em que esteve por lá, manteve a sua conexão com a pintura, fazendo aulas de artes e cerâmica, todos os dias. Quando retornou ao Brasil, decidiu morar no Rio de Janeiro para cursar o ensino superior.
“Me matriculei na primeira turma de Arquitetura da PUC-Rio, mas logo no início, percebi que me identificava mesmo com o curso de Design Gráfico, por uma questão de escala”, conta. “Preferia trabalhar com projetos menores e bidimensionais – que eram mais próximos das minhas pinturas e desenhos. Não pensei duas vezes: decidi mudar de curso”, complementa. “Foi a melhor coisa que eu fiz! Gostei muito da faculdade de Design, em todos os aspectos! Me formei em dezembro de 2006, com um projeto de identidade visual para a marca de cachaças artesanais Deneza”, relembra.
Logo depois de terminar a faculdade, a Diana se dedicou integralmente ao curso “Procedência e Propriedade”, do renovado artista plástico Charles Watson, que hoje faz parte da corpo docente da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro. “Gostaria de ter feito esse curso quando estivesse mais madura. Mesmo assim, ele já foi um divisor de águas pra mim, naquela época. Passei a enxergar tudo de uma forma completamente nova, inclusive a minha arte”, revela. “Para complementar a minha formação, decidi fazer um MBA em Marketing na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2011. A minha intenção era ser uma profissional que não entendesse apenas do operacional, mas também de tudo o que estivesse relacionado à estratégia de vendas, produto e formação de preço”, explica a designer.
Vida profissional de uma mulher adulta
Assim que a Diana concluiu o curso do Charles Watson, ela começou a trabalhar no escritório Dupla Design, em janeiro de 2007. “A Dupla fez toda a identidade visual dos Jogos Panamericanos do Rio e eu passei meses me dedicando exclusivamente a este projeto. Ganhei bastante experiência no universo esportivo porque mesmo depois dos Jogos, nós continuamos atendendo o Comitê Olímpico Brasileiro (COB)”, conta. Apesar dos pontos positivos e das oportunidades de aprendizado que o emprego oferecia, a Diana resolveu sair da Dupla em 2010. Ela percebeu que estava se distanciando do que mais amava: o trabalho artesanal. “No dia a dia, o designer acaba se afastando da pintura e da ilustração, porque vivemos num mundo pautado pela era digital. Eu sentia falta de criar longe do computador, de experimentar outros formatos. Por isso resolvi pedir demissão”, revela.
Depois desse período de três anos na Dupla, a Diana teve uma breve passagem pelo escritório de design da amiga Mary Dutra e, logo em seguida, foi contratada pelo Chapa Estúdio para fazer videografismos. “O Chapa era um escritório menor e foi lá que eu consegui, de fato, matar as saudades do trabalho manual: fiz ilustrações em nanquim, quadro a quadro, para uma vinheta; e cheguei a imprimir toda a papelaria da empresa, em serigrafia”, relembra. “Eu gostava muito de trabalhar nesse estúdio e do processo artesanal em si, mas em 2011, fui convidada pelos meus antigos chefes da Dupla para integrar a equipe de designers das Olímpiadas. Não resisti e fui”, confessa Diana.
“Foi assim que, em abril de 2011, me vi diante de uma grande empresa, com baias, funcionários vestindo roupa social e recebendo benefícios trabalhistas. Como esse período coincidiu com o início do meu MBA em Marketing, a minha sensação era que eu estava virando adulta”, brinca a designer. “Achava que esse era o caminho certo pra mim. Sempre ouvi falar que apenas 5% dos profissionais formados em Design trabalhavam na área, e eu me sentia fazendo parte desse seleto grupo. Ainda mais naquele contexto: ganhando bem – com direito a vale refeição e plano de saúde – para contribuir com um projeto maravilhoso, a nível internacional”, enfatiza.
“Por um bom tempo, eu me senti muito realizada no Comitê Olímpico Rio 2016, mas com o passar dos anos, bateu aquela saudade de pintar – ficar longe dos pincéis quase me deixou doente. A minha válvula de escape foi me inscrever no Curso de Técnicas de Ilustração do artista plástico Renato Alarcão, em 2013. A partir dali, tive o meu primeiro contato com a aquarela e não larguei mais! Fiquei completamente apaixonada, mesmo no início, quando tudo o que você faz é horrível, manchado e tosco”, brinca a aquarelista. “Eu queria ficar muito boa naquilo e tentei escolher um tema para praticar. Percebi que a natureza me atraía bastante e que os meus murais do Pinterest eram repletos de flores e pássaros! Decidi investir nessa temática! E não deu outra: depois que retomei a pintura, me senti cheia de vida, meu humor mudou e os problemas do dia a dia do trabalho perderam a importância”, revela Diana.
Quando o “Plano B” se transforma no “Plano A”
Desde o dia em que aceitou fazer parte da equipe de designers do Comitê Olímpico, a Diana soube que esse trabalho não duraria para sempre – ele tinha uma data certa para terminar. Por esse motivo, já em 2013 – três anos antes dos Jogos, a designer começou a pensar o que faria profissionalmente, depois que as Olimpíadas chegassem ao fim. “Nessa fase, percebi que eu não queria mais sair em buscar de um emprego formal em outra empresa. Comecei realmente a amadurecer a ideia de me tornar uma designer autônoma e exercer o meu trabalho artístico em paralelo, com foco nas aquarelas – esse seria o meu plano B”, conta. Só que a vida acabou mostrando que ela deveria trilhar o caminho da arte.
“Fiz um workshop de mídias digitais para entender melhor como deveria divulgar a minha imagem na internet. Resolvi criar uma Fanpage e um perfil específico no Instagram para compartilhar as minhas aquarelas e o resultado foi imediato! Em poucos meses, eu já estava sendo indicada por pessoas que eu nem sequer conhecia! Eu demorei um tempo pra acreditar! Aos poucos, fui percebendo que o meu Plano B – que eram as aquarelas – se transformaram no meu Plano A, com muitas encomendas, ideias e projetos solo!”, revela Diana, com aquela felicidade de quem finalmente está seguindo a voz do coração!
“Eu tenho conhecido pessoas incríveis ao longo da minha jornada empreendedora e a pintura tem me proporcionado momentos muito especiais! A felicidade é enorme, mas no início eu fiquei insegura sim – sem saber se as pessoas iriam gostar do meu trabalho. Apesar do medo, segui em frente e planejei uma estratégia de negócio para a minha marca. Além disso, tive a oportunidade única de criar uma linha de produtos para a nova temporada do projeto Vivre, em Itaipava – que vão desde gravuras numeradas e impressas em papel Fine Art, até almofadas com estampas que eu mesma desenvolvi a partir das minhas aquarelas”, explica Diana. “Atualmente, consigo unir o Design com a Pintura – o meu grande sonho desde o início – e isso me dá uma enorme satisfação”, finaliza a artista, com um sorriso no rosto.
Almofadas com estampas criadas a partir das aquarelas da Diana! Essas belezuras
fazem parte da décor da temporada Poésie do projeto Vivre, em Itaipava
Eu aprendi tanto com a Diana, que esse texto ficou pequeno para compartilhar tudo o que eu gostaria com vocês! Por isso, nada mais justo do que continuar esse bate-papo em outro post, que já está no ar! Na segunda entrevista, a Diana fala ainda mais sobre sonhos, rotina criativa, os desafios que ela enfrentou quando resolveu empreender e dá dicas pra quem também deseja criar um trabalho autêntico e repleto de significado! Se eu fosse você, ia lá conferir! 😉
A Diana adora folhear livros de outros artistas para se inspirar! E um dos cantinhos preferidos
dela pra fazer essa “pausa” é na sala do seu apê, nessa cadeira de balanço que é puro amor!
Diana assinando uma de suas obras, que já estava pronta para ser entregue ao cliente
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