Eu conheci o trabalho lindo da designer e ilustradora Débora Islas, através do Instagram! Ela tem um dos perfis mais apaixonantes dessa rede social! Não só pelos desenhos maravilhosos, mas pelas fotos inspiradoras de decoração, que ela compartilha no feed! Ou seja, a gente se encanta pelo conjunto da obra 🙂 Por isso, assim que surgiu uma oportunidade de viajar pra São Paulo, eu enviei um e-mail convidando a Débora pra conceder uma entrevista pro Inside! Para minha felicidade, ela topou na hora! E a melhor parte de conhecer alguém que a gente só tinha contato pela internet, é descobrir o quanto nos identificamos com uma profissional que antes a gente só admirava de longe! Além de talentosa, a Débora é extremamente divertida! Ela não só contou toda a trajetória profissional dela, em detalhes, como fez questão de “interpretar” alguns momentos decisivos de sua carreira. Nós conversamos por mais de duas horas, como se fôssemos amigas de longa data – e confesso que nem vi o tempo passar! Fui recebida com muito carinho não só por ela, mas pelo Diego – seu marido, que também é designer – e pela Serifa: uma das gatinhas mais fotogênicas que eu já tive o prazer de fotografar! Ela ficou tímida no começo, mas não demorou muito pra se tornar a estrela da sessão de fotos que fizemos no home office da Débora!
Com lápis e papel na mão, desde pequena
Sabe aquela criança que vive desenhando? Não pode ver um lápis que já quer dar vazão a sua criatividade?! Esse foi o caso da Débora – típica ilustradora! Como ela mesmo disse: “não deu muito pra fugir disso!” A irmã mais velha, que sempre sonhou em ser professora e amava desenhar, foi a principal incentivadora da Débora. “Volta e meia, a minha irmã me chamava pra brincar de escolinha! Eu fazia o papel da aluna e ela me incentivava muito pra que eu nunca deixasse o desenho de lado! Foi através dela que eu comecei a gostar de ilustração”, conta.
“Na adolescência, eu não parei de desenhar, mas comecei a me questionar se a ilustração seria, de fato, uma profissão ou apenas uma atividade que eu gostava de fazer. Porque até então, eu nunca tinha feito curso de desenho! Era só um hobby mesmo. Me perguntava como eu iria trabalhar com ilustração”, revela Débora. A única certeza que ela tinha, na época, é que não queria ser professora como a irmã e boa parte de sua família. Sem saber qual profissão escolher, ela acabou optando pelo Design Gráfico – uma área que, em tese, estaria mais ligada à arte e ao desenho. “Me questionava muito sobre quais possibilidades eu teria para continuar desenhando sem ser, necessariamente, professora. Quando ingressei na universidade, o Design ainda era algo muito novo! Eu não conhecia ninguém que tivesse feito o curso. Mesmo assim, resolvi arriscar, e foi a melhor escolha que eu fiz! Amei a Faculdade de Design!”, afirma.
No mercado de trabalho, desde cedo
Para conseguir pagar seus estudos numa universidade, a Débora começou a trabalhar cedo, aos 16 anos – quando ainda estava no colegial. “Eu lembro que, basicamente, a minha rotina era sair da escola um pouco antes do meio-dia. Eu já trocava de roupa, no banheiro, colocava o uniforme na mochilinha, pegava o ônibus e ia pro trabalho.” Desde então, ela nunca mais parou de trabalhar! “Eu sempre brinco com o Diego, meu marido, que a gente já fez de tudo um pouco nessa vida, só não trabalhamos como sapateiro”, conta Débora, em tom de brincadeira mesmo, como só ela sabe fazer!
Quando estava cursando o último ano da faculdade, a futura designer conseguiu uma vaga para trabalhar numa loja que vendia equipamento fotográfico e revelava filmes analógicos. “Os clientes ainda levavam filmes de 36 poses, para revelar, naquela época. A fotografia digital estava começando a surgir, mas a gente já usava aquelas máquinas que imprimiam fotos de câmeras digitais. Eu participava de todo o processo: desde a manutenção e regulagem da máquina, até a impressão de fotos – analógicas e digitais. Eu amava! E acreditava piamente que já estava trabalhando na minha área – tadinha de mim”, brinca.
A carreira de designer só começou mesmo depois que a Débora participou de um processo seletivo da Editora Escala, onde funcionava a Revista Atrevida – voltada para o público adolescente. “Meu amigo de faculdade, Thiago Oliveira – o OliverThi – me avisou sobre essa vaga, na Editora Escala. Me candidatei mas, na minha cabeça, eu nunca seria chamada! Ainda não tinha experiência na área e estava insegura com o meu portfólio de designer iniciante”, revela. “Para minha surpresa, eu fui selecionada! Nem acreditei! Meu antigo chefe, que me entrevistou na época e é meu amigo até hoje, me disse, anos depois que, além do portfólio, o que mais pesou nessa escolha foi a empolgação que eu demonstrei, durante a entrevista, em trabalhar na Revista Atrevida”’, conta Débora, toda feliz! Assim que ficou sabendo da novidade, a designer pediu demissão da loja de fotografia, na mesma hora! Algumas semanas depois, ela já estava trabalhando na Editora Escala!
“Um mundo se abriu pra mim, naquele momento! Foi na Editora Escala que consegui identificar o que eu gostava de fazer, na minha área, e o que não gostava também! Todos os contatos que eu tenho até hoje, dentro da profissão, são de lá – os principais! Foi onde eu me realizei! Eu acompanhava sessão de fotos para capa da revista, produzia still (fotos de produto), fazia pauta de reportagens que contavam com o trabalho de outros ilustradores – era muito legal! Isso sem falar que o meu antigo chefe sempre me deixava muito à vontade para criar e dar sugestões! Eu tive a sorte de trabalhar com um profissional que me dava essa abertura! Analisando hoje, sou muito grata por isso! Normalmente, quando as pessoas conseguem o primeiro emprego na área, elas têm a criatividade podada – o contrário do que aconteceu comigo”’, explica a designer.
Depois de três anos e meio trabalhando na Revista Atrevida – e de um curto período desenvolvendo uma revista do zero, numa editora menor – a Débora recebeu o convite para concorrer a uma vaga na Revista Gloss. “A Editora Abril sempre foi o meu sonho! Toda vez que eu passava em frente ao prédio da Abril, falava pra mim mesma: um dia ainda vou trabalhar aqui!”, relembra. E o Universo atendeu o pedido! Um mês depois de fazer a entrevista com a diretora de arte da Revista Gloss, ela já estava trabalhando lá!
“Na Gloss, eu realizei um sonho antigo! Ficava admirando o meu crachá de designer, toda boba!”, relembra. “Como na maioria das editoras, a carga horária era puxada, principalmente em dia de fechamento (quando a revista é finalizada e vai pra gráfica). Às vezes, saíamos às 5h da manhã, mas eu estava tão deslumbrava com o meu novo emprego que ficava até tarde, numa boa”, conta a designer. Enquanto esteve na Abril, a Débora trabalhou não só na Gloss, mas em outras revistas da editora, como a Capricho, Alfa – publicação voltada para o público masculino – e a revista Claudia, uma das mais tradicionais, onde ela ficou até outubro de 2017, quando resolveu pedir demissão.
“Eu sempre fui apaixonada pelo meu trabalho mas, com o passar do tempo, a carga horária e o ritmo intenso das editoras, de um modo geral, começaram a me afetar física e emocionalmente. O meu corpo estava pedindo um pouco de pausa. Tanto que no dia em que tomei coragem para pedir demissão, eu estava completamente sem voz”, revela Débora. “Foi a primeira vez em que pedi demissão sem ter outro emprego em vista. Eu não tinha um Plano B, mas como estava no meu limite, resolvi arriscar, mesmo sem ter ideia do que o futuro iria me reservar”, afirma a ilustradora.
Reencontro com a ilustração
Durante todo esse tempo em que trabalhou nas principais editoras de São Paulo, a ilustração não chegou a ganhar papel de destaque, na carreira da Débora. “Eu sempre trabalhei como designer. A ilustração estava ao meu lado, de uma forma ou de outra, mas ela nunca foi a minha atividade principal, nas editoras. Quando a gente precisava de uma ilustração mais elaborada para uma reportagem específica, a editora contratava um ilustrador freelancer. Eu orientava o profissional e fazia o rascunho da ilustração, se fosse necessário. Se a ilustração fosse simples, eu me oferecia pra fazer e não chegávamos a contratar ninguém por fora”, explica Débora. “E houve situações também em que a editora me pagou um extra pra fazer uma ilustração mais elaborada, que eu já tinha começado. Eu ganhava um valor adicional como profissional freelancer de ilustração porque, oficialmente, aquela atividade não fazia parte do meu trabalho como designer. Eu amava – confesso!”, relembra Débora.
“No fundo, eu nunca achei que a ilustração fosse apenas um hobby. Ao longo de todo esse período, trabalhando em empregos fixos, eu fazia “freelas” também – mas eram poucos! Só não fazia mais porque não daria conta. Normalmente, eu tinha apenas um dia pra fazer as ilustrações – aos sábados. Por esse motivo, seguia estritamente as orientações do cliente pra ter o mínimo de alteração. Resultado: eu não tinha tempo para experimentar! Acredito que essa foi a maior diferença, depois que comecei a trabalhar de casa: ter a possibilidade de experimentar novas técnicas e materiais! Agora, consigo ter tempo para fazer cursos e estudar mais sobre ilustração digital – algo que, até um ano atrás, eu explorava muito pouco”, revela. Atualmente, a Débora trabalha nesse home office dos sonhos – que ela divide com o seu marido Diego Vaughan, designer e criador da marca Qual seu Tipo? – onde desenvolve projetos com lettering.
O que o futuro pode reservar
Quando perguntei pra Débora, no finalzinho da entrevista, o que ela vislumbrava para a sua carreira, de agora em diante, a resposta foi clara e objetiva: “Eu costumo dizer que estou aberta às possibilidades. Ainda não sei te dizer o que eu realmente quero para o meu futuro, mas já sei identificar o que não quero mais pra mim – isso é fundamental!”, afirma a designer. “Já apareceram algumas oportunidades de vagas fixas, mas dentro do pouco que eu soube, as condições oferecidas iriam me levar para uma vida semelhante a que eu estava. A minha prioridade, a partir de agora, sempre vai ser a minha saúde! Quero ter qualidade de vida – além de exercer um trabalho que faça sentido para mim, claro! Quando surgir alguma proposta bacana, não irei negar”.
“Alguns meses depois que pedi demissão, o meu irmão sofreu um grave acidente de carro. Naquele momento, eu me dei conta do quanto somos frágeis. Só aí comecei a refletir sobre o que eu estava fazendo com a minha vida. Tinha dias que eu nem via a luz do sol! A vida é agora e não daqui a 10, 20 anos. Não adianta só fazer planos para a aposentadoria. Depois desse momento difícil que vivi ao lado da minha família, sempre me questiono sobre o que estou fazendo com a minha vida agora, e não a longo prazo, apenas!”, revela.
“Se um gênio da lâmpada viesse me perguntar, qual seria o meu maior desejo hoje, eu diria: ter uma base de clientes fixos, que me permitissem trabalhar home office, de preferência, e que fossem renovados a cada três ou seis meses. Assim, eu conseguiria me programar financeiramente para fazer algum tipo de investimento. Seria uma forma de pensar no futuro, de maneira consciente, sem deixar a minha saúde e a qualidade de vida, de lado”, finaliza a ilustradora.
Talentosa e dedicada, eu não tenho a menor dúvida que a Débora vai conseguir encontrar seu ponto de equilíbrio: continuar sendo muito feliz fazendo o que ama, respeitando os seus limites e sendo reconhecida financeiramente por isso! Acredito que esse é o sonho de todos nós: unir amor pelo ofício, prosperidade e qualidade de vida! Que a gente siga confiante, sabendo que apesar dos desafios, teremos sempre a liberdade de rever os nossos planos e fazer novas escolhas!
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