Eu me apaixonei pelo ateliê da Marília antes mesmo de chegar em São Paulo. Tinha visto algumas fotos na internet e foi sintonia a primeira vista! Pessoalmente, é muito mais do que podemos imaginar através das lentes do mundo virtual, é claro! Quando cheguei lá, é como se eu estivesse entrando numa casa de praia – e isso no coração da maior cidade do país. Dava até pra sentir o cheiro da maresia. Era só fechar os olhos e imaginar a cena. Para completar, ainda estava rolando uma playlist com muita música popular brasileira – o que me fez acreditar ainda mais que eu estava perto do mar.
A Marília me recebeu numa linda tarde de sexta, com um sorriso no rosto, e me convidou para conhecer aquele universo particular que ela construiu dia após dia, ao longo de quatro anos e meio, com muita garra e determinação. E foi nesse cenário dos sonhos que eu conheci a história dessa talentosa craft designer.
Formada em Moda, Marília fez estágios na área de criação, já trabalhou como vendedora de loja e seu último emprego formal foi numa confecção de roupas femininas, na Vila Madalena. Ela conseguia ir a pé para o trabalho e ainda almoçava em casa todos os dias. Levando em consideração que estamos falando de São Paulo, isso é qualidade de vida, como ela mesma afirma.
O período em que trabalhou na confecção coincidiu com uma nova fase na vida pessoal: ela e o namorado – atual marido – resolveram morar juntos. Com a mudança de endereço, o interesse por tudo que é relacionado à decoração aumentou cada vez mais. Um belo dia, justamente quando estava repaginando a casa que antes era apenas do seu namorado, Marília resolveu usar uma garrafa azul turquesa e alguns tecidos importados, que estavam sem utilidade há mais de um ano, para fazer o seu primeiro abajur. Pesquisou na internet o passo a passo para montar a luminária e, em pouco tempo, ela criou um objeto de decoração com tecido estampado – numa época em que só eram vendidos os tradicionais abajures com tecido liso.
“As minhas amigas adoraram a luminária e quando comecei a divulgar no Facebook, percebi que o produto também teve uma boa aceitação. Foi a partir daí que eu consegui identificar uma oportunidade de negócio, porque esse tipo de abajur estampado, com base de vidro, ainda não estava disponível no mercado”, relembra Marília. E ela não pensou duas vezes: resolveu investir nesse nicho e partiu em busca do sonho de montar o próprio negócio.
“Comecei com pouca grana, até porque fiquei apenas 1 ano e meio no meu último emprego. E como, no início, eu não tinha condições de alugar um espaço para montar o meu ateliê, a solução foi trabalhar no apartamento da minha mãe, no meu antigo quarto de solteira. E eu fiquei por lá durante dois anos, produzindo e recebendo os clientes em casa”, conta Marília.
Empreender é assumir riscos
“Eu comecei o meu negócio em março de 2011 e até julho fiquei produzindo sem ganhar nada. Como divido as contas com o meu marido lá em casa, já estava ficando preocupada com a parte financeira”, revela Marília. Foi quando um amigo sugeriu que ela participasse da famosa feira Craft Design, que acontece em São Paulo, duas vezes ao ano. “É uma feira destinada ao atacado. Lojistas do Brasil inteiro vão ao evento em busca de produtos originais para revender. No início, fiquei com medo, porque vender para o atacado é uma responsabilidade enorme. Mesmo assim, resolvi correr o risco e apostar nessa feira. Se não desse certo, faria outra coisa da minha vida. Voltaria a procurar emprego, se fosse o caso”, revela a designer.
E para a surpresa de Marília, o primeiro cliente que veio até o estande dela no evento – um lojista do Ceará – comprou um modelo de cada produto que estava exposto nas prateleiras. “A minha mãe foi comigo para ajudar nas vendas e não acreditou quando ouviu o pedido do cliente. Você está brincando – ela disse para o lojista. Bem coisa de iniciante mesmo”, relembra. “Eu fiquei tão feliz com aquela primeira venda! Até porque o valor já tinha sido suficiente para pagar o aluguel do estande”, explica a empreendedora.
“Participar da Craft Design foi muito bom! Mudou a minha vida, me fez acreditar que seria possível viver do meu talento! Através dessa feira, percebi que tinha potencial para vender para o Brasil inteiro – eu só precisava me profissionalizar para alavancar o meu empreendimento”, revela. E foi o que ela fez: se matriculou em cursos do Sebrae para se familiarizar com a parte de finanças e contratou fornecedores para aumentar a produção – mas se preocupando sempre em manter a alta qualidade de cada objeto de decoração que leva o seu nome.
Desafios de uma jovem empreendedora
Quando perguntei à Marília qual tinha sido o maior desafio dela nesses quatro anos e meio como empreendedora criativa, ela respondeu sem pensar: a parte financeira. “E continua sendo um desafio até hoje”, afirma. “Primeiro, eu pago os meus fornecedores, depois pago o aluguel do espaço onde hoje tenho o meu ateliê, e só em seguida eu me pago. Vivo disso e preciso do dinheiro. Não tenho um marido rico ou um pai que me ajuda. Essa grana precisa entrar. Alguns meses menos, mas precisa entrar. Então está estipulado que eu preciso me pagar”, explica a craft designer.
“O fato de precisar do dinheiro para se sustentar acaba te dando mais garra para fazer dar certo! Pra se manter no mercado, é necessário ter muita dedicação. A gente precisa estar lá de corpo e alma. Acho que o meu negócio está dando certo, justamente porque estou 100% aqui, no meu ateliê – e isso acaba se tornando um diferencial”, complementa.
“Pode parecer angustiante falar de dinheiro, dessa forma, mas quem quer ser empreendedor tem que aprender a lidar com essa insegurança. Eu prefiro passar alguns perrengues, mas fazer o que eu gosto. Acordar de manhã e pensar: ai que delícia, vou para o meu ateliê! Passo a madrugada trabalhando de tão feliz”, revela. E por conhecer de perto os desafios de qualquer profissional que quer ter o próprio negócio, Marília se considera uma pessoa extremamente consciente em relação aos seus gastos. “Sou muito econômica e luto diariamente para manter esse sonho que eu construí com tanto esforço: o de trabalhar com o que eu amo”, declara, com um sorriso no rosto.
“Se eu fosse rica e não precisasse trabalhar, faria o que eu faço. Me sinto privilegiada por conseguir ganhar dinheiro com isso. É um sonho, mas a gente acaba abrindo mão de muitas coisas. De qualquer forma, sempre vale a pena, porque eu trabalho feliz”, revela a designer, numa espécie de agradecimento – ao universo e a ela mesma – por ter batalhado tanto para chegar onde está hoje. E quando perguntei à Marília qual é o seu grande sonho atualmente, ela respondeu: “quero me mudar para Ilhabela, ficar perto do mar e ter uma vida ainda mais simples”. Escutar essa frase, fez total sentido pra mim. Até porque, no final das contas, a gente precisa de muito pouco para ser feliz.
{Para saber mais sobre o trabalho encantador da Marília, é só acessar o site www.mariliacalareso.com.br Atualmente, a linha de produtos da marca também inclui almofadas e banquetas de madeira, além das famosas luminárias. E todas as estampas são exclusivas. Os produtos são revendidos em lojas de diversos estados do Brasil e também podem ser comprados diretamente através do site da Marília, na loja online. No Nordeste, a Pousada Patacho, localizada em Alagoas, conta com um showroom da marca, e todos os quartos foram decorados pela própria craft designer, com todas as lindezas que ela produz. É a coisa mais linda de se ver!}
4 Comments
Que ateliê charmoso! Parabéns, Talita! 🙂 Adorei a história e os abajures – já vou ver o site dela. Mas eu queria mesmo era ir no hotel que ela decorou os quartos. 😀
O ateliê da Marília é uma graça mesmo, Bruna! Eu fiquei encantada 🙂 E conhecer a Pousada Patacho também já se tornou um sonho de consumo rs Quem sabe a gente não programa uma viagem pra lá um dia?! Beijos
[…] Talita Chaves fala de um ateliê incrível e dos sonhos de uma empreendedora lutadora e talentosa. […]
Muito obrigada pelo carinho e por compartilhar o post, Amanda! Que honra ser citada no blog “A menina da foto”! Beijo grande 🙂