Eu conheci a Rachel, de uma forma completamente inusitada, no dia 15 de setembro de 2013! Naquela época, a minha vida era outra: eu ainda trabalhava no Centro de Pesquisas da Petrobras e estava vivendo as dores do término de um longo relacionamento de oito anos. Até mesmo por esse motivo, as minhas colegas de trabalho insistiram pra que eu me inscrevesse na primeira edição da Sephora Beauty Run – uma corrida de 6km, somente para mulheres. Eu nunca havia participado de maratona alguma! Eu mal caminhava no meu dia a dia, pra falar a verdade. “Você tem que fazer coisas novas para ampliar o seu horizonte e sair dessa fossa” – diziam as minhas amigas. Eu olhava pra elas com um ar de desânimo mas, depois de um tempo, deixei a resistência de lado e resolvi embarcar naquela “aventura atlética”. Afinal, eu não tinha nada a perder!
Caminhar 6km ainda vai, mas acordar cedo em pleno domingo já era demais pra mim! Quem me conhece, sabe o quanto sofro pra sair da cama bem cedinho. E como era de se esperar, saí atrasada de casa – claro! Se eu fosse de ônibus ou metrô até o local do evento, perderia a largada, que seria às 8h da manhã. A solução era pegar um táxi! Fiquei então, numa das esquinas da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, vestida a caráter com a blusinha da maratona, esperando um táxi vagar.
Eis que, de repente, durante aquela espera fatídica, um motorista de táxi que estava se aproximando, olhou pra minha roupa e, na mesma hora, perguntou pra passageira: “Olha, acho que essa moça vai participar da mesma corrida, você topa dar uma carona pra ela?!” Eu nem sequer tinha visto o rosto da pessoa que estava no banco de trás. A passageira concordou em oferecer uma carona sem me conhecer e eu também entrei no carro sem pensar duas vezes! Quando abri a porta do táxi, a Rachel me recebeu com um sorriso no rosto.
Chegamos a tempo para o início da maratona mas, ao invés de levar a sério aquele papo de atletismo, nós duas percorremos aqueles 6km caminhando tranquilamente, conversando sobre a vida, como se nós duas já nos conhecêssemos há muitos anos. Mas essa é a sensação que eu tenho: a de que conheço essa amiga/irmã de outras vidas – o Universo só deu um empurrãozinho pra que a gente pudesse se reencontrar naquela primavera de 2013! De lá pra cá, a gente nunca mais parou de filosofar sobre a vida e os desafios de empreender depois dos 30. Quando não estamos tomando um café na nossa padaria artesanal preferida aqui no Rio, o bate-papo é transferido automaticamente para o Whatsapp – a gente conversa tanto que os nossos áudios foram carinhosamente apelidados de “podcasts”.
O mais bacana é que ao longo desses quase cinco anos de amizade, nós já presenciamos tanta coisa boa acontecendo uma na vida da outra – foram muitas transformações positivas! E desafios também, claro! Afinal de contas, decidimos empreender praticamente na mesma época: ela, na área de gastronomia e eu, no universo da economia criativa. Quando uma de nós pensa em desistir do caminho que escolhemos trilhar – de trabalhar com o que a gente ama – a outra vai lá e não deixa a peteca cair! Aprendemos juntas, inspiradas no mantra da querida artista plástica Juliana Amorim, que “o nosso real dever, nesse mundo, é salvar os nossos sonhos”.
Crédito do lettering, que aparece emoldurado na foto: Andrea Camargo, do projeto Letras Amadas
Como era a nossa vida antes de empreender
Quando eu conheci a Rachel, ela já tinha concluído duas faculdades: de Comunicação Social e Direito. Na época, ela estava trabalhando num escritório de advocacia, no horário comercial, e nem passava pela cabeça dela a possibilidade de um dia empreender – ainda mais na área de gastronomia! Mas o Universo – sempre Ele, esse lindo! – se encarregou disso: 2015 foi o Ano das Mudanças – não só na vida da minha amiga mas, coincidentemente, na minha também!
Há exatamente três anos, a Rachel ganhou duas bolsas de estudo para fazer mestrado em Direito da Regulação, na Fundação Getúlio Vargas – uma da própria FGV e outra da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). E como para receber as bolsas, era exigido que ela se dedicasse em tempo integral, sem vínculo empregatício algum, a única saída foi pedir demissão do escritório. Ao invés de se assustar com o “desconhecido”, a Rachel resolveu encarar esse desafio de braços abertos e com um belo sorriso no rosto, como sempre costuma fazer!
Pouco tempo depois, ela veio me contar, toda feliz, mais uma novidade: estava grávida! Hoje, o Antônio – de tão radiante e sorridente – é conhecido como “bebê sorriso”. E as boas notícias não pararam por aí: ainda em 2015, a Rachel e o Chris se casaram! Eles já estavam dividindo as escovas de dentes há um bom tempo! A chegada do Antônio foi um incentivo a mais para formalizar essa união linda, que aconteceu num sábado de muitas nuvens e névoa aqui no Rio mas, graças a Deus, sem chuva! Me lembro como se fosse ontem: ficamos, desde a véspera, pedindo a São Pedro e à Santa Clara que não chovesse durante a cerimônia já que o casamento seria celebrado num espaço aberto, em meio à natureza! Nossos pedidos foram atendidos! E eu ainda tive o prazer de ser uma das madrinhas desse casal que eu tanto amo!
Enquanto isso, a minha vida profissional também tinha acabado de virar pelo avesso: fui demitida da Petrobras depois de 11 anos, junto com outros 10 colegas. Foi a tal da crise econômica que assolou o Brasil e ainda gera reflexos até hoje. O setor onde trabalhávamos praticamente fechou as portas. Inicialmente, fiquei num misto de êxtase (finalmente uma nova porta estava se abrindo na minha vida e eu nem precisei tomar coragem pra pedir demissão – o Universo já fez isso por mim!) e dúvida (eu não fazia a menor ideia do que faria dali pra frente. Não tinha um plano B!), mas também resolvi abraçar aquela “página em branco” com muito amor e carinho. Foi nesse mesmo ano que lancei o blog do Inside e saí viajando pelo Brasil, com parte da rescisão que recebi, para fazer as primeiras entrevistas com empreendedores criativos!
Vida nova que segue
Em 2016, a Rachel resolveu investir, verdadeiramente, numa paixão antiga: a gastronomia! Desde criança, ela adorava trocar receitas com as amigas da escola, através de cartinhas fofas, e cozinhar ao lado da avó materna Alzira Lopes, nascida em Portugal – que sempre fez questão de manter a tradição gastronômica da família, cozinhando pratos tipicamente portugueses, como o arroz de polvo, o bacalhau e a rabanada. “Quando eu era pequena, a minha mãe não me deixava entrar na cozinha toda hora, para me familiarizar com aquele universo. A cozinha pertencia a ela! Só mais tarde, depois que tive a minha primeira casa é que comecei a cozinhar, com frequência, e estudar sobre o assunto. Eu fazia faculdade de Direito na parte da manhã e, à noite, me inscrevia nos mais variados cursos ligados à gastronomia”, relembra.
O compromisso que ela fez consigo mesma, lá em 2016 – isso paralelo ao mestrado na FGV – foi se conectar novamente com a aquela menina que sempre gostou de cozinhar! Ela ouviu esse chamado interior e se inscreveu na primeira turma da Nós Escola – instituição de gastronomia e lifestyle saudável, fundada pela chef de cozinha Anna Elisa de Castro! O programa do curso inclui aulas práticas e teóricas que acontecem em 10 finais de semanas, sempre aos sábados e domingos, das 8h30m às 18h30m. Então, durante quase um ano, a rotina da Rachel se dividiu entre os cuidados com o Antônio, o mestrado e as aulas de gastronomia aos finais de semana.
Em 2017, ela concluiu o mestrado e a sua tese acabou se transformando no livro “Uber – inovação disruptiva e ciclos de intervenção regulatória”. A publicação foi lançada em outubro, na Livraria da Travessa de Botafogo, aqui no Rio. No mesmo ano, a Rachel também terminou o curso da Nós Escola e começou a ministrar workshops sobre empreendedorismo e economia compartilhada.
A avó materna Alzira Lopes prestigiando a neta, durante o lançamento
do livro da Rachel, na Livraria da Travessa, em outubro de 2017
A gastronomia floral e o resgate da ancestralidade
O que eu acho mais lindo na história da Rachel é que a própria vida foi se encaminhando de tal forma que ela mesma foi capaz de identificar o seu propósito! Como diz a autora americana Gabrielle Bernstein: “não se preocupe em identificar a sua missão! Mais cedo ou mais tarde, ela virá ao seu encontro” – e foi isso que aconteceu com a minha amiga.
“Um belo dia, eu estava na casa da minha avó Alzira – que muito me ensinou sobre culinária e é a melhor cozinheira que já conheci na vida – olhando fotografias antigas e me vi menina, numa dessas imagens, com cerca de oito ou nove anos, brincando com diversas panelinhas com flores dentro, numa cozinha imaginária. Naquele instante, senti que aquele era o meu caminho – o que verdadeiramente iria me completar e fazer com que eu me sentisse realizada! Acabei me afastando do Direito para me aprofundar nos estudos da gastronomia, desenvolvendo uma pesquisa sobre o uso das flores como ingredientes principais na alimentação”, conta Rachel.
Como nada é por acaso, pouco tempo depois, numa viagem à Portugal, em agosto de 2017, a avó paterna da Rachel, dona Micas, fez com que ela tivesse ainda mais certeza da sua missão! “Conversando com a minha avó paterna, eu descobri que a minha pentavó morava numa região chamada Montalegre, norte da terrinha, de colonização celta, onde as mulheres já cozinhavam com flores – não apenas para se alimentarem bem ou embelezar os pratos, mas com o intuito de prevenir e tratar doenças. Naquele momento, senti que o meu propósito de vida tinha uma forte ligação com as minhas antepassadas e, claro, com o poder de cura que os alimentos e as flores podem nos oferecer!”, afirma. Depois dessa conversa esclarecedora com a avó, a Rachel não pensou duas vezes: na mesma hora, ela resolveu incluir Montalegre, que fica na fronteira com a Espanha, no roteiro da sua viagem!
“Quando eu cheguei em Montalegre, fiquei arrepiada! Além da cidade ser linda e mágica, eu tive a oportunidade de conhecer um museu chamado “Eco Museu do Barroso”, que conta a história de vida das pessoas dessa região, tais como hábitos, tradições e o que elas usavam na comida. No último andar do museu, me deparei com cinco caldeirões com flores, que mostravam como e o porquê as flores eram utilizadas pelas mulheres, na alimentação. Essa viagem foi um verdadeiro divisor de águas na minha vida”, revela Rachel.
De volta ao Brasil, ela resolveu seguir o conselho de sua avó paterna: “Minha filha, diga tudo o que você precisar dizer, através das flores”. Foi assim, com a certeza de estar sendo guiada, que ela criou o seu negócio: Cozinha do Jardim! E a logomarca, criada pela Fofys Design e finalizada em aquarela pela artista Pilar Rodriguez, não poderia ser outra: um caldeirão repleto de flores, igualzinho aqueles que ela teve a oportunidade de conhecer no Museu do Barroso, em Montalegre!
Hoje, a Rachel dá aulas de gastronomia floral na Pós-graduação da Nós Escola e também ministra diversos workshops, no Rio de Janeiro, para ensinar receitas com flores comestíveis e compartilhar o seu conhecimento na área! Isso sem contar o famoso curso de pães de fermentação natural com flores – onde a Rachel ensina algumas técnicas de panificação que aprendeu com a sua avó Micas!
Agora, que a minha amiga chegou até aqui, encontrou sua missão, você deve estar se perguntando: quais sonhos ela ainda gostaria de realizar, no futuro?! Pelo o que eu sei, são muitos – mas todos têm a mesma essência, fazem parte de um único ideal: disseminar a gastronomia floral celta, facilitando processos de cura e de autoconhecimento. “Eu quero honrar a minha ancestralidade e o aprendizado que adquiri com as minhas avós. Meu maior sonho é continuar trilhando esse caminho mágico, que me possibilita não só transmitir um conhecimento tão rico mas, principalmente, ser uma espécie de porta-voz de todo o potencial de cura que as flores podem nos oferecer”, afirma Rachel. E eu estarei sempre ao lado dela – apoiando muito e torcendo pra que esse caminho inspirador seja cada dia mais iluminado e florido! Que os anjos e o Universo digam Amém!
4 Comments
Que lindo, Talita. Pude ler e reviver os momentos que passamos juntas, minha amiga. Que os anjos digam amém para o universo próspero e repleto de significado que você está criando! Um forte abraço e obrigada por contar minha história.
Amiga linda! Foi um prazer contar a sua história! Obrigada você por me receber com tanto carinho na sua casa e por ser essa amiga tão especial! Sou muito grata ao Universo por ter te conhecido <3 Muita luz, flores e prosperidade no nosso caminho! Um abraço bem apertado!
Nossa já conhecia um pouco da história da Raquel, mas saber de tudo e o reencontro de vcs foi mágico. Vocês são inspiradoras!!
Muito obrigada pelo carinho e elogio, Márcia! Fico feliz em saber que você gostou do post e se inspirou com a história linda da Rachel e da nossa amizade! O trabalho da Rachel é um encanto mesmo, admiro demais! Um beijo enorme, querida! Seja sempre super bem-vinda por aqui!