Eu conheci a Germana Uchoa – por enquanto, só virtualmente – através do seminário online “Coragem para empreender” – promovido em dezembro do ano passado pela querida Paula Quintão. No evento, a Germana contou um pouquinho da trajetória dela no empreendedorismo criativo e eu me identifiquei na hora! Na mesma semana, enviei um e-mail perguntando se ela topava conceder uma entrevista para o blog! E o resultado está aí: um bate-papo recheado de informações preciosas pra quem está investindo na economia criativa!
A Germana é formada em Publicidade e tem pós-graduação em Cultura de Moda, pela Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo. Natural de Recife, Pernambuco, Germana morou por um bom tempo na Alemanha e retornou ao Brasil em outubro de 2015. Com um vasto currículo no setor criativo da economia, Germana revela que “fazer o que a gente ama é o novo pretinho básico” e também diz “não acreditar em criatividade sem liberdade”. Mãe de três filhos, ela começou a empreender desde cedo. Já esteve a frente de muitos negócios, mas foi na Espaço Garimpo que ela se encontrou – uma plataforma de empreendedorismo, criatividade e inovação, idealizada pela própria Germana. Que essa entrevista seja uma enorme fonte de inspiração pra vocês, assim como foi para mim! Boa leitura 🙂
Germana, você tem uma vasta experiência nas áreas de moda, marketing e branding. Você já foi executiva, passou por diversas empresas e também foi professora universitária. O que te fez mudar completamente de vida? E como surgiu a vontade de empreender?
Na verdade, eu não mudei completamente de vida da noite para o dia. Não decidi isso num estalo! Comecei descobrindo o que eu não queria para mim. Foi um processo: fui me conhecendo melhor e, a partir daí, tive condições de chegar mais perto dos meus sonhos e de entender o que eu poderia fazer para que eles começassem a acontecer. Por outro lado, eu nunca deixei de trabalhar com toda a bagagem que eu adquiri ao longo dos anos: continuo dando aulas e atuando nas áreas de marketing, moda e branding – o que mudou mesmo foi o jeito de fazer! Agora, o meu foco é no empreendedorismo e as minhas principais ferramentas para “colocar a mão na massa” são a criatividade e a inovação.
A vontade de empreender veio da barriga da minha mãe, tenho certeza! Desde que me entendo por gente, estou tirando os meus projetos do papel: desde vender suco, picolé e chocolate quando era adolescente até fazer brechós pela vida afora. E a minha postura sempre foi a mesma durante o período em que estive no mundo corporativo: eu criava departamentos, processos, treinamentos, manuais, novos produtos e serviços. “Fazer acontecer de um jeito diferente” – foi sempre isso que me moveu, a vida inteira!
De qualquer forma, posso dizer que comecei a empreender, de fato, em 2005! Eu saí de um emprego onde já estava há oito anos e senti que, daquela vez, seria diferente! Em 2006, criei o meu primeiro negócio, na área de moda: eu usava tecidos descartados, em testes de estampas, para fazer roupas, acessórios, móveis e qualquer outra coisa que viesse à cabeça! Daí, para começar outros mil negócios criativos que surgiram depois, foi um pulo!
Germana, na época em que morava na Europa. Crédito da imagem: arquivo pessoal da empreendedora
Antes de criar a Espaço Garimpo, em 2007, você já desenvolveu a marca Ballux e também esteve a frente de um bistrô. Quando você percebeu que a sua missão seria ajudar outros empreendedores criativos a concretizarem os seus projetos?
Eu sempre amei estar nos bastidores: fosse organizando, direcionando, aprendendo, transmitindo e multiplicando conhecimento! Com o passar do tempo, cheguei à conclusão de que a melhor maneira de exercer esse papel seria vivenciando todo o processo. Imagina uma pessoa que sonha em dar aulas de fotografia, mas que nunca fez uma foto, só ficou na parte teórica? Não dá, né? Para desenvolver a minha marca, por exemplo, eu comecei fazendo uma pós-graduação em Cultura de Moda. Me conectei com profissionais desse segmento, criei o conceito do meu negócio, os produtos e serviços. Estava tudo lindo, mas quando chegou o momento de entregar tudo o que eu construí para o mundo, quase surtei!
Resolvi voltar para o mercado pra identificar os desafios enfrentados pelos profissionais que estavam começando a empreender. E foi aí que eu me deparei com uma lacuna: essas pessoas precisavam de alguém “fora da caixa” para ajudar nos bastidores dos negócios! Nada era adequado naquela época! Toda ajuda oferecida era conservadora e tradicional. Os processos, em si, eram ultrapassados e não faziam mais sentido algum para as mentes criativas desse novo perfil de empreendedores que estavam entrando no mercado.
A Espaço Garimpo surgiu nesse contexto! No início, como uma pop-up store itinerante: o objetivo era reunir pessoas que estavam enfrentando as mesmas dificuldades na hora de empreender. E eu acredito que juntos, podemos tudo! Assim, o mercado começou a mudar, novas marcas surgiram e parcerias também! Era um espaço divertido e charmoso que gerava oportunidades de negócio e conectava a Moda com outras áreas criativas, como a Fotografia, o Cinema, a Gastronomia, Música, Dança, Design e por aí vai!
Fale um pouquinho do trabalho que você desenvolve hoje! Qual é a importância do coaching para os profissionais que estão dando os primeiros passos na economia criativa?
Com o mundo se transformando numa velocidade nunca vista antes, e numa era onde a tecnologia facilita muito o nosso dia a dia, o “novo” se torna “obsoleto” numa rapidez absurda! E isso vale para novos estilos de vida, formas de consumo e modelos de negócio! Nesse cenário, as pessoas se sentem perdidas – o que é natural e mais comum do que a gente imagina! Muitos não sabem o que querem da vida, outros até têm alguma ideia, mas não sabem por onde começar. Nós estamos sempre em busca de uma vida mais plena, produtiva e focada, mas, principalmente, de uma vida criativa e com propósito! “Do what we love is the new black!” (Fazer o que a gente ama é o novo pretinho básico!) Ainda bem! Já estava na hora, não é mesmo? Como assim a gente passa 80% da nossa vida trabalhando e, na maioria das vezes, com algo que odiamos e com pessoas que não têm a mesma sintonia, ou seja, com as quais não nos identificamos? Sem contar que, na maioria das vezes, trabalhamos muito pra ganhar pouco. É algo que não faz o menor sentido!
As pessoas querem mudar, desejam que tudo seja diferente, mas não sabem por onde começar, porque não é fácil mesmo! E é aí que eu entro: já passei por isso, vivi essa angústia na pele! Só eu sei o quanto gostaria de ter tido alguém para me orientar nesse período de transição. Encontrar esse caminho que nos faça entrar num fluxo que alinhe “mente” e “coração” é um processo desafiador, diga-se de passagem! Ajudar pessoas a transformarem seus sonhos em ação é o que me move hoje! Quero empoderar esses profissionais através do empreendedorismo, da criatividade e da inovação!
Além de realizar processos de coaching – em que ajudo pessoas a acharem soluções práticas e claras para alcançarem seus objetivos – eu ainda trabalho com mentoria na Garimpo. Fora isso, também ministro cursos, workshops e palestras. Atualmente, estou escrevendo o meu primeiro livro. Todas essas iniciativas são presenciais, mas também estão disponíveis no universo digital. Assim, eu tenho um alcance maior para ajudar mais pessoas a pensarem em novas formas de criar, produzir, distribuir e se relacionarem com o mundo.
Qual é a programação da Escola Garimpo para este ano?
O primeiro curso presencial que eu ofereci aqui em Recife, depois que voltei da Europa, foi o “2016, Ativar!” – em que falamos sobre planejamento criativo, branding e monetização. A minha ideia é realizar um curso presencial por mês, em Recife. Em abril, tenho viagens programadas para o Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre! Vou ministrar palestras e me reunir com parceiros. O site novo da Garimpo vai ficar pronto até o final deste mês e ele virá cheio de novidades! Outro projeto que pretendo colocar em prática é a WebTV da Garimpo, que vai reunir muito conteúdo gratuito e de qualidade pra quem deseja tirar as ideias do papel e levá-las para o mundo!
Pincéis da empreendedora criativa Juliana Amorim
Existem cursos de especialização e extensão, no exterior, sobre economia criativa? Quais cursos você recomendaria para quem quer se aprofundar nesse tema?
Nossa, existem muitos: tudo vai depender do perfil de cada um e do local de preferência para estudar. Têm cursos mais curtos, oferecidos pela School of Life, em Londres, por exemplo. Mas existem outros, de maior duração e bastante interativos também, como é o caso do MBA Executivo da Escola de Liderança Criativa de Berlim – é o meu sonho fazer esse curso! Além desses, também tem a Singularity University, que fica no Vale do Silício, na Califórnia. Essa universidade tem como foco a temática do “futurismo” – um show de proposta! Em Londres, onde se começou a falar sobre economia criativa, existem várias opções de pós-graduação, além dos cursos da School of Life! A Goldsmithes University é uma das mais famosas pelo curso de empreendedorismo criativo! E vale lembrar que também existem ótimas opções de cursos online nas plataformas de ensino da Udemy, Coursera e Skillshare. Confesso que, no universo digital, o meu curso favorito é o Business School (B-School), da Marie Forleo. Tem muita coisa legal, basta pesquisar!
Você já foi vencedora, em 2013, do prêmio internacional “Young Creative Entrepreneur” (YCEA), do British Council, na categoria “Moda”, e também foi selecionada para participar de duas outras iniciativas que fomentam o empreendedorismo criativo. Na sua opinião, qual é a importância desse tipo de reconhecimento? No Brasil, já existem iniciativas como essas? Caso exista, quais instituições nacionais estão fomentando a economia criativa, atualmente?
Quando eu comecei a encarar esses desafios, em 2010, a minha intenção era conhecer pessoas que trabalhavam com economia criativa ou que tinham negócios nesse setor. Para poder compartilhar mais, eu precisava me conectar com esses profissionais e ampliar o meu aprendizado. Mas naquela época, as coisas não era tão fáceis como são agora. Não tínhamos acesso a tanta tecnologia por um custo tão baixo. A solução foi investir em ações presenciais, parcerias e na construção de uma rede de relacionamento com empresas, com o Sebrae e o Governo do Estado. Eu participei de muitos editais do Ministério da Cultura (Minc) e de outros municipais também – na verdade, eu participava de tudo que surgisse de novo para fomentar a economia criativa!
Foi um trabalho muito relevante, mas confesso que cansei! Eu tinha a sensação de estar voltando para o mercado corporativo. Não me sentia livre – e isso ia contra tudo o que eu acreditava, até porque não acredito em criatividade sem liberdade. Hoje em dia, tem muita coisa legal: incubadoras, escolas, editais de aceleradoras, novos cursos (tanto online quanto presenciais), os famosos TED Talks, eventos para investidores, grupos de startups, espaços de co-working e por aí vai! O Ministério da Cultura ainda oferece muitos editais – que, a meu ver, ainda não são adequados, mas muita coisa tem mudado: é importante ficar sempre de olho!
Germana, você morou na Alemanha por um bom tempo. Pela sua experiência, seria possível identificar alguma diferença entre o empreendedorismo criativo no Brasil e na Europa? Ou seja, você acredita que a economia criativa já está mais difundida no exterior, se compararmos com o Brasil? Os desafios enfrentados por empreendedores de nacionalidades distintas acabam sendo os mesmos? Qual é sua visão a respeito desse tema?
Eu voltei para o Brasil em outubro do ano passado, mas morro de saudade da vida que eu levava na Alemanha, me identificava muito com tudo! Na Europa, empreender é algo mais natural. Os incentivos, as oportunidades e o próprio estilo de vida da população deixam todo o processo mais leve! O empreendedorismo já faz parte do dia a dia das pessoas e da educação, de um modo geral. Isso já é uma grande diferença!
No Brasil, quando alguém diz que vai empreender, a família e os amigos – que não estão na mesma vibe – já acham logo que você está louco ou é um fracassado. Mas esse cenário tem mudado muito justamente por causa da tecnologia e do acesso à informação. Já na Europa, os profissionais que atuam na economia criativa são bastante valorizados e respeitados. Eles têm muito espaço para crescer no mercado, se assim desejarem. Só para se ter uma ideia, o termo “economia criativa” já era debatido em Londres desde 1994, por John Howkins – imagina a distância entre o cenário europeu e brasileiro! A nossa sorte é a tecnologia – que além de acelerar muito esse processo, também nos permite ampliar o horizonte, quando o assunto é empreendedorismo!
Frase da pintora americana Georgia O’Keeffe, fotografada do livro “Pense como um artista”, do autor Will Gompertz
Além de coach e empreendedora, você também é mãe de três filhos. Como foi conciliar a vida pessoal com essa vasta carreira no Brasil e no exterior? Quais dificuldades você enfrentou no início? E quais dicas você daria para as mães que querem empreender?
Esse é, sem dúvida, o meu maior desafio! Além de ser mãe de três filhos, a diferença de idade deles é grande, o que significa demandas muito distintas: eu tenho o Matheus, de 18 anos, o Romeu, de 9, e a Anita, que está com cinco anos. Ufa! Acho que a pergunta não é sobre as dificuldades que enfrentei, mas sobre os desafios que eu ainda enfrento – já que os menores demandam muito da minha atenção e dedicação! Mas, não era isso que eu queria? Poder ficar mais tempo com os meus filhos, ter mais flexibilidade de horário, poder estar com eles quando mais precisam de mim? Seja na hora das tarefas, da alimentação, dos esportes ou da música? Ter a oportunidade de conversar mais com os meus filhos e contribuir efetivamente na formação deles? Então, eu consegui! Tenho tudo isso hoje! Mas, tenho que confessar: não é nada fácil! A coisa desanda um pouco e, quando isso acontece, o melhor de tudo é saber que essa foi uma escolha que fiz para ter mais liberdade. Eu posso parar, repensar, avaliar, decidir como quero levar a minha vida. E que maravilha, hoje sou livre!
Realmente não é fácil, mas para as mães que também sonham em empreender, eu diria que é possível sim! Para isso, basta mudar o nosso estilo de vida, diminuir os gastos, focar no nosso propósito, investir no que realmente é importante pra fazer uma transição de carreira em etapas – sem esquecer de produzir todo dia um pouco, em direção aos nossos sonhos! Exercer um trabalho que nos faça feliz, mas que também ajude as pessoas e entregue valor para o mundo – essa é a ideia! E o mais gratificante é, justamente, trabalhar sem sentir que estamos trabalhando! Entrar nesse fluxo é estar alinhado com os nossos valores, de modo que isso faça parte da nossa vida – sem separar o lado pessoal do profissional. Pra mim, isso não existe! Tudo é vida!
Por fim, qual conselho você daria para quem tem vontade de empreender mas ainda não teve coragem de dar o primeiro passo?
Meu conselho é exatamente esse: dê o primeiro passo! Juro, é isso mesmo! Faça algo, não interessa o tamanho desse “algo”! O que importa é a direção, é começar, de fato, o processo de mudança! E eu sugiro que você dê início a qualquer processo de transformação pelo autoconhecimento. É fundamental a gente se entender melhor para poder mudar. E a gente precisa mudar! Várias coisas, aliás: o jeito de pensar, de ver o mundo…temos que rever os nossos valores. Se preocupe em se conhecer melhor! Alinhe a sua mente com o seu coração – te garanto que você vai se surpreender com os resultados!
De qualquer forma, se tivesse que dar dicas, eu listaria cinco:
- Procure as pessoas certas para te ajudar! Isso é decisivo para você chegar aonde quiser! Já ouviu a frase que diz que você é a média das cinco pessoas com as quais se relaciona?
- Tudo que você quiser aprender, você pode aprender! Então estude, leia, saia em busca de tudo o que está acontecendo no mundo e encontre as ferramentas certas que irão te ajudar a desenvolver o seu projeto. Seja curioso!
- Mantenha o foco na abundância, nas milhares de oportunidades que estão por aí! Nada de “mimimi”, isso não vai te levar a lugar algum!
- Mostre o seu trabalho para o mundo: compartilhe, escreva, grave vídeos, espalhe a sua mensagem! Se conectar com as pessoas vai te ajudar a chegar aonde você quiser!
- Encare as dificuldades e os fracassos como um aprendizado, até porque eles estarão sempre te rondando. Não desista por causa disso!
Sketchbook da Oficina Condão e xícara de porcelana azul da Maria Lia Home 🙂
2 Comments
Ah, eu adoro ler esses posts inspiradores! <3 Parece até que a Germana tava aqui batendo um papo e tomando um café comigo. Adoro suas entrevistas, Talita! <3 Beijo grande e uma ótima semana, querida!
Muito obrigada, Bruna! Fico feliz em saber que você gostou da entrevista, querida 🙂 A trajetória profissional da Germana é muito inspiradora mesmo! Aprendi demais com ela, através desse bate-papo! Beijo grande e uma ótima semana pra você também!